ontem fui numa reunião e lá pelas tantas, o assunto foi investimentos.
acontece que uma parcela X de um montão de dinheiro (e X maior que a metade desse montão de dinheiro) está aplicada em títulos do tesouro público. não está aplicada na bolsa, porque é um tipo de aplicação que em algumas situações pode ser mais rentável, mas é muito estável e nem preciso me estender.
enfim, pelo que a economista explicou, esses títulos do tesouro público são firmeza, então o valor X tende a render.
eis que na reunião (tinha umas 40 pessoas na sala) surge uma pessoa meio alucinadinha, dizendo:
- E SE O PAÍS QUEBRAR? E SE O ESTADO QUEBRAR, NUM CENÁRIO CATASTRÓFICO?
o pessoal ficou com uma cara de wtf?
a economista e um outro especialista explicaram que não era simples assim, que o dinheiro já está lá, salvo. mas o sujeito insistiu. ele tinha mais ou menos a minha idade (entre 25 e 35 anos) e fiquei pensando que uma das coisas que marcam minha geração é essa ansiedade por um fim.
é uma crença de que a qualquer momento, um meteoroide vai vir do espaço e nos atingir em cheio. ou jesus vai voltar. ou yellowstone vai explodir. ou uma doença sem cura vai matar todos. ou transformar todos em zumbis (e os poucos 'vivos' lutarão pela sobrevivência).
não sei como não apareceu outro Jim Jones. se aparecesse, arrebanharia um monte de gente.
parece que essa ânsia por um apocalipse, para muitos, é uma oportunidade de redenção ou renascimento. então o sujeito acha que é bom estar preparado, saber de antemão se o Brasil vai quebrar e todos irão se foder.
essa angústia maluca toma conta da mente de muitos brasileiros. como se torcessem contra o país. como se acreditassem que uma hora ou outra uma crise ou instabilidade econômica sem precedentes nos abatessem. sei que tá rolando inflação, sei que os preços estão subindo. mas meus compatriotas continuam comprando como loucos, mesmo que não possam pagar pelos produtos. não vejo ninguém deixando de consumir, todo mundo troca de celular, carro e compra muita coisa em lojas de departamento.
compram se não houvesse o amanhã. talvez a angústia impeça de vê-lo, por isso essa ideia de apocalipse é tão atrativa.